terça-feira, 18 de outubro de 2011

Projeto Universitário Cidadão promove seminário de combate à pobreza

BELO HORIZONTE (18/10/11) - O Projeto Universitário Cidadão, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento dos Vales Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan), realizou nesta terça-feira (18), em Montes Claros, o seminário de Inovação Social para Combate à Pobreza que integra as ações para redução das desigualdades sociais no Norte e Nordeste de Minas.  O seminário foi realizado em Diamantina, na segunda-feira (17) e será em Teófilo Otoni nesta sexta-feira (21).
Durante o evento, além de conhecer o diagnóstico e ações de superação da pobreza desenvolvidas pelo Governo de Minas, as instituições de ensino superior e seus alunos debateram sobre novas propostas de enfrentamento da pobreza nas comunidades durante os trabalhos de campo, desenvolvidos pelo projeto. “A proposta do seminário é promover a atuação intensa e direta, dos estudantes de ensino superior, por meio de ações denominadas de interação social, contemplando a realidade, as carências e demandas dos municípios”, afirmou o secretário de Estado de Desenvolvimento dos Vales Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas, Gil Pereira.
A assessora chefe da Sedvan, Rachel Ulhoa, ressaltou que a expectativa é que haja maior integração e alinhamento na atuação das instituições de ensino superior, dos estudantes e do Governo de Minas, no desenvolvimento de projetos e ações que visam a reduzir as desigualdades sociais na região.
O Projeto
O Universitário Cidadão tem como objetivo promover interação de estudantes de ensino superior com comunidades em situação de vulnerabilidade, nos municípios com menores índices de desenvolvimento humano do Norte e Nordeste de Minas Gerais. As ações são direcionadas ao atendimento de necessidades sociais e a busca de inovações sociais que contribuam para redução da pobreza.

Ituiutaba está entre os nove municípios que receberão recursos do MDS

Investimentos do MDS serão feitos em cidades do Mato Grosso, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina, Rondônia e Paraná


Mais nove municípios receberão recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) para abrir Bancos de Alimentos e Cozinhas Comunitárias. Tangará da Serra, no Mato Grosso, Itabuna, na Bahia, e Jataí, em Goiás, vão abrir Bancos de Alimentos e Canoinhas e São José, em Santa Catarina, Ariquemes, em Rondônia, Ituiutaba, em Minas Gerais, Quatro Barras e Arapongas, no Paraná, Cozinhas Comunitárias. A previsão é de que as novas unidades estejam em funcionamento no final de 2012.
Na primeira chamada pública, divulgada em 13 de junho, foram selecionados 36 municípios. Para o primeiro programa, serão liberados R$ 4,5 milhões e para o segundo, R$ 14,6 milhões. O financiamento se destina à construção de prédio, aquisição de equipamentos, móveis e utensílios, além de atividades de formação e qualificação profissional em alimentação, nutrição e gastronomia junto aos beneficiários do Cadastro Único (base de dados usada para seleção dos beneficiários para os programas sociais do Governo Federal).
Um dos critérios de seleção estava relacionado à concentração de população em situação de pobreza e extrema pobreza. Para as Cozinhas Comunitárias, foram selecionados municípios inseridos nos projetos Praças do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Creches ProInfância, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
A prioridade para os Bancos de Alimentos voltou-se a municípios operadores do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA). A iniciativa busca fortalecer a articulação e a integração entre os programas e equipamentos públicos locais. A manutenção e a gestão desses equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional serão de responsabilidades das prefeituras ou dos governos estaduais.
Programas – As Cozinhas Comunitárias são equipamentos públicos de alimentação e nutrição. Integram a rede operacional do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) e buscam ampliar a oferta de refeições adequadas e a preços acessíveis à população de baixa renda. As instalações apoiadas têm capacidade mínima de produção de 200 refeições diárias.

Os Bancos de Alimentos são unidades de abastecimento e combate ao desperdício. Auxiliam na distribuição dos gêneros alimentícios do PAA, além de se caracterizarem como importante espaço de articulação com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Atuam na doação às entidades socioassistenciais do Sistema Único de Assistência Social (Suas).

Com apoio do MDS, já foram criados em todo o País 67 Bancos de Alimentos, que atendem mais de 3,4 mil entidades assistenciais por mês. Desde 2003, o recurso para o programa foi de R$ 24 milhões. Já para a criação de Cozinhas Comunitárias, o ministério investiu, até 2010, R$ 76,8 milhões na abertura de 412 unidades, que servem cerca de 87,5 mil refeições por dia.


Luta de comunidade quilombola em BH motiva audiência pública

A luta da comunidade quilombola dos Luízes pelo direito ao título de posse de suas terras motiva audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (19/10/11). Solicitada pelo presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), a reunião será realizada no Auditório, a partir das 9 horas.
A reunião foi motivada pelos problemas enfrentados pela comunidade dos Luízes no processo de titulação de suas terras, que ficam no bairro Grajaú, em Belo Horizonte. Eles reclamam que a Construtora Patrimar está erguendo um prédio no terreno onde os quilombolas vivem desde 1895, o que motivou a paralisação do processo de regularização fundiária no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Foram convidados para a reunião a defensora pública Giêdra Cristina Pinto Moreira; o superintendente regional do Incra, Carlos Alberto Menezes Calazans; a secretária municipal adjunta de Regulação Urbana de Belo Horizonte, Branca Antunes de Macahubas; a representante do Quilombo dos Luízes, Miriam Aprígio; e a gerente administrativa da Patrimar Engenharia, Patrícia Maria Bernardino.

Fonte: ALMG

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pela terceira vez, Brasil lidera ranking de combate à fome


O Brasil lidera pela terceira vez o levantamento da organização não governamental (ONG) ActionAid, divulgado hoje (10/10), que lista os países que mais combatem a fome. Desta vez, o anúncio de mais investimentos para a agricultura familiar levou o Brasil ao topo do ranking. Malauí, Ruanda, Etiópia e Tanzânia completam as cinco primeiras posições.

O relatório lista resultados do Programa Fome Zero, que levou à redução da desnutrição infantil  em 73% entre 2002 e 2008, e elogia a inclusão do direito à alimentação na Constituição Federal em fevereiro de 2010.

A iniciativa mais recente do país no combate à insegurança alimentar, segundo a ONG, foi o anúncio de R$ 16 bilhões para o Plano Safra da Agricultura Familiar 2011/2012, para investimentos na produção de alimentos, geração de renda no campo e organização econômica de agricultores familiares, assentados da reforma agrária e povos e comunidades tradicionais.

Apesar dos bons resultados, segundo a ActionAid, o Brasil precisa avançar na distribuição de terras, uma das mais desiguais do mundo. De acordo com o relatório, 56% da terra agricultável estão nas mãos de 3,5% dos proprietários rurais. Os 40% mais pobres têm apenas 1% dessas terras.
“O país precisa resolver a profunda desigualdade no acesso à terra e assegurar que os novos processos de crescimento não gerem novas exclusões por meio do deslocamento das populações. E ainda há 16 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, altamente vulneráveis à fome. Essas pessoas são profundamente excluídas, são necessárias políticas públicas muito específicas e desenhadas para esse grupo”, avaliou o coordenador executivo da ActionAid Brasil, Adriano Campolina.

Segundo ele, pode ser compartilhada com outros países a experiência brasileira em iniciativas de transferência de renda e políticas de proteção social e segurança alimentar, como os programas de merenda escolar e de construção de cisternas em regiões semiáridas.

Na avaliação global, o levantamento aponta que apesar de recentes avanços no combate à fome e à insegurança alimentar, o mundo está prestes a enfrentar uma agravamento da crise de oferta de alimentos. Entre as causas estão os efeitos das mudanças climáticas e a perspectiva de aumento de preço dos alimentos, que deverá levar mais 44 milhões de pessoas à pobreza. De acordo com a ActionAid, a demanda de terras para a produção de biocombustíveis deve continuar inflacionando o preço dos alimentos.

De acordo com Campolina, a crise econômica também deve frear os esforços internacionais de combate à fome. “Em um ambiente de crise há menos recursos disponíveis tanto para a ajuda externa quanto para o investimento doméstico em agricultura, o que pode levar a uma diminuição dos recursos que poderiam ser destinados à agricultura familiar e sustentável. Apesar que boa parte do que se ouviu até hoje sobre promessa de ajuda dos países ricos não constitui novos recursos”, acrescentou.

A ONG sugere que o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) inclua a crise alimentar na pauta de sua próxima reunião, em novembro, em Cannes, na França, e se comprometa, por exemplo, a garantir investimentos às pequenas propriedades dos países pobres e a frear a especulação de terras para a produção de biocombustíveis.

“O G20 tem que tomar as medidas concretas para cumprir a prioridade de combater a fome. A prioridade não pode ser salvar grupos financeiros que especulam com commodities agrícolas ao custo da fome das populações pobres. É preciso investir em pequenos agricultores que produzem alimentos para consumo local e dinamizam mercados domésticos, apoiar a criação de estoques de alimentos nacionais e regionais e controlar a especulação financeira com produtos agrícolas”, defendeu o coordenador. (Agência Brasil)

PAA terá R$ 10 milhões para compra de sementes crioulas



O Governo Federal comprará, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), sementes crioulas das organizações da agricultura familiar. Serão reservados R$ 10 milhões para a iniciativa, que está também associada à estratégia de fomentar bancos de sementes comunitários.

A iniciativa, associada à inclusão produtiva rural do Plano Brasil Sem Miséria, envolve o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Esta ação é complementar ao fomento produtivo, que articula a oferta, a partir deste mês, de assistência técnica, sementes adaptadas da Embrapa e o Fomento Produtivo - transferência direta de R$ 2,4 mil por família, para 33 mil famílias neste ano, entre agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais e assentados.

Essa boa notícia foi divulgada na segunda-feira (10) pelo jornal Folha de São Paulo. De acordo com o jornal, "o governo decidiu comprar de agricultores familiares R$ 10 milhões de um tipo rústico de semente para doar à população extremamente pobre - com renda individual de até R$ 70 mensais".

A ação faz parte do Plano Brasil Sem Miséria e será anunciada nesta sexta-feira (14) pela presidente Dilma Rousseff, durante a assinatura de um pacto na região sul para o cumprimento do programa.

A compra será feita por edital, a ser lançado, que selecionará quais pequenos produtores venderão sementes. A aquisição beneficiará 2200 famílias, que poderão receber até R$ 4.500 pela venda. "Para você garantir maior distribuição de renda, é interessante canalizar esse poder de compra do governo federal para os agricultores mais pobres", disse Maya Takagi, secretária de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social. "Em vez de você comprar das empresas, adquire uma parte disso da agricultura familiar", afirma.

A chamada semente crioula é menos produtiva do que as tratadas geneticamente, porém sua produção é mais independente do uso de tecnologia e pode se adaptar melhor à região nativa. A necessidade de aquisição das sementes decorre do fato de a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) não possuir esse tipo de insumo, disse Takagi.
A Embrapa, segundo ela, trabalha com sementes já modificadas para condições específicas. Cerca de 150 toneladas começarão a ser distribuídas, na quinta, para 43 mil famílias de Minas Gerais.

Fonte: com informações do MDS e do jornal Folha de São Paulo

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

QUILOMBOLAS DE MINAS GERAIS NA CONSTRUÇÃO DE SEUS DIREITOS


Sandra Maria da Silva[1], Maria Aparecida de Souza[2],
 João Batista de Almeida Costa[3], Pablo Matos Camargo[4]


Há atualmente em Minas Gerais aproximadamente 460 comunidades negras/quilombolas. Estes grupos possuem uma especificidade étnica oriundo de suas histórias ligadas ao continente africana, à escravidão e ao racismo e preconceito instituído a estas famílias pelo Estado e pelo povo brasileiro depois de findada a escravidão.
A violência em relação a terra é o principal problema das comunidades quilombolas de Minas Gerais. A maioria dessas comunidades perdeu seus territórios históricos, por grilagens de terras. A problemática da terra origina-se na demanda pelos territórios quilombolas, sejam por pressão imobiliária ou por fazendeiros, empresas, barragens, mineração ou outro empreendimento que conflite com o território quilombola.
Aqueles que chegam ocupando suas terras não reconhecem o valor étnico histórico das áreas dos quilombos e nem mesmo a cultura destes povos que trazem consigo o som de tambores e a arte de danças tradicionais dos povos de origem banco, nagô, entre outros originários do continente africano.
Conseqüentemente, as apropriações do espaço original, mediante a inserção de atividades econômicas, gradativamente, tendem a ocasionar a redução das terras das comunidades quilombolas acarretando a ausência de auto-estima, a migração e a falta de espaço para produção. A economia das comunidades quilombolas é baseada em jornadas de trabalho em fazendas vizinhas; pequena produção agrícola para comercializar nas feiras e mercados próximos; migração sazonal para São Paulo, Paraná e Sul de Minas Gerais para trabalhar na “panha” do café e no corte de cana-de-açúcar; trabalho em empresas de mineradora ou reflorestadora de eucalipto na vizinhança da comunidade e trabalhos informais nos centros urbanos.
A migração sazonal, muito comum no norte e nordeste de Minas Gerais acarreta um grande problema social que desestabiliza e coloca em risco a continuidade física e cultural do quilombo. Hoje muitas comunidades correm o risco de desaparecer, pois a falta de perspectiva de geração de renda ou de subsistência tem criado grande migração dos moradores para os centros urbanos.
Os proventos recebidos pelo governo em programa governamentais e as aposentadorias é que muitas vezes mantém a comunidade.
Com o território vilipendiado e reduzido, a saúde, educação e o saneamento básico ficam comprometidos e dependentes de uma ação mais efetiva do Estado para atender minimamente esta população excluída historicamente.
As comunidades quilombolas reorganizam seu modo de vida de acordo com as possibilidades que são expostas. As relações de parentescos, visões de mundo e modos de viver são reelaborados para que a comunidade continue existindo fisicamente e simbolicamente.
Muitas destas comunidades vivem uma situação de insegurança alimentar e hídrica que necessitam da intervenção do Estado para amenizar e resolver este problema. Há ações emergenciais como a distribuição de cestas básicas que irão resolver o problema da fome nas situações emergenciais, que são várias em todo o Estado de Minas Gerais. Estas ações acontecem hoje de forma desorganizada e muito parca por alguma iniciativa do Governo Federal.
O Estado deve criar programas de geração de renda e incentivo à produção agrícola e a criação de animais para o consumo e venda para que as famílias quilombolas pudessem ter alternativas e possibilidade de manter a tradição quilombola e transmitir para as gerações vindouras toda a riqueza que carregam. Estes programas têm que ser adaptados de acordo com cada comunidade, com suas demandas, com as iniciativas já construídas pela comunidade e com o interesse destes. 
Iniciativas e propostas das comunidades são o que não falta, basta o Estado afinar o discurso, sempre escutando e sendo direcionado com as demandas das famílias quilombolas para atendê-los. Projetos de farinheiras comunitárias, pequenas fabriquetas para a produção de produtos locais, apicultura, piscicultura, criação de gado leiteiro, produção de artesanato, etc. Tudo isto ligado a um programa de saída destes produtos (venda), articulado com outras esferas governamentais ou iniciativas privadas.
A promoção de um processo educacional de lideranças quilombolas e envolvidos na execução do programa através da formação em soberania e segurança alimentar e nutricional, agroecologia e políticas públicas, tendo como eixo transversal a cultura quilombola poderia ser uma frente de mobilização e formação das lideranças quilombolas voltada para a segurança alimentar.

Referências Bibliográficas:

Comunidades Quilombolas de MG no Século XXI: História e Resistência, da editora Autêntica, BH, 2007.




[1] Presidente da Federação das Comunidades Quilombolas de MG.

[2] Rede de Educação Cidadã

[3] Antropólogo e professor da Unimontes

[4] Historiador/CEDEFES

ü  Este artigo faz parte do caderno de textos dos eventos preparatórios para a 5ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável.


COMUNIDADES TRADICIONAIS RIBEIRINHAS NO NORTE DE MINAS E OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Rosangela da Silva[1]

            Quando nos referimos às comunidades tradicionais é muito comum que em nosso pensamento logo apareça a ideia de aldeias indígenas e quilombos. No entanto, é necessário esclarecer que o conceito de comunidades tradicionais também insere outros povos como os ribeirinhos. Este é o caso dos vazanteiros do extremo norte de Minas Gerais.
 A partir de vivências proporcionadas pelo projeto de Extensão Lições da Terra da PUC/Minas Gerais, foi desenvolvida pesquisa que objetivou avaliar os impactos ambientais para a comunidade tradicional vazanteira – Pau Preto - em função da implantação do Parque Estadual Verde Grande, Matias Cardoso MG.
Neste breve texto não pretendo abordar todos os aspectos da pesquisa, mas apenas esclarecer alguns elementos que nos levem à compreensão destas comunidades e os conflitos sócios ambientais.
            Segundo DIEGUES (1994), comunidades tradicionais são aquelas que o modo de vida está relacionado com “um tipo de organização econômica e social com pouca ou nenhuma acumulação de capital, não usando força de trabalho assalariado. Nelas produtores independentes estão envolvidos em atividades econômicas de pequena escala, como agricultura, pesca, coleta e artesanato”. p.94.
            Os vazanteiros são populações que têm suas relações sociais de produção baseadas nos ciclos de cheia e vazante do rio São Francisco. No período da cheia o rio toma grande parte das ilhas deixando depois um lameiro onde estas comunidades utilizam para plantar feijão, abóbora, melancia e outros. São também pescadores artesanais em sua maioria.  OLIVEIRA (2005) aborda questões relativas a identidade dos vazanteiros do médio São Francisco a partir da etnicidade ecológica, englobando-os na categoria de populações tradicionais. Os vazanteiros podem ser definidos como:
            “(...) populações residentes nas áreas inundáveis das margens e ilhas do rio São Francisco que se caracterizam por um modo de vida específico, construído a partir do manejo dos ecossistemas são franciscanos; combinando nos diversos ambientes que constituem o seu território, atividades de agricultura de vazante e sequeiro com a pesca, a criação de animais e o extrativismo.”p.11
A dinâmica e integração com o rio fazem com que o território destas comunidades tradicionais seja um “território fluído” (DIEGUES, 2008). O território vazanteiro também é conhecido como um território “móvel”, o que pode ser demonstrado pela mobilidade dos grupos sobre o território e pela mobilidade física em função do ciclo do rio “cujas secas e enchentes alteram a área e os limites das ilhas, exigindo a redefinição do “pedaço de ilha” de cada família”[2].
            A ampliação da modernização agrícola a partir da década de 60 e consolidada no norte de Minas Gerais a partir do Projeto Jaíba, impuseram um novo ritmo às relações sociais de produção e reprodução do espaço. Disso adveio a necessidade de se criar medidas compensatórias através de áreas protegidas, que por sua vez recaíram sobre as populações tradicionais do norte de Minas. Ao passo que cresce a apropriação de grandes áreas para o desenvolvimento da chamada modernização no campo ocorre um recuo das práticas tradicionais inseridas num contexto de aliança entre biodiversidade e cultura.
O desenvolvimento da sociedade urbano industrial gerou a demanda da criação de Unidades de Conservação, sendo este um fenômeno da modernidade. A modernidade e o que com ela adveio tende a uma referência negativa do tradicional, negando o antigo para se afirmar. A transposição do “mito moderno da natureza intocada” dos EUA para países tropicais como Brasil, com diferenças ecológicas e culturais acentuadas, implicou em conflitos que inúmeras vezes geraram a perda do território de populações tradicionais existentes em áreas de florestas.
Estas ações, a partir da implantação de modelos de Unidades de Conservação, com visão preservacionista ampliaram as dicotomias da relação homem natureza potencializando conflitos relativos à relação homem e Unidades de Conservação. Estas dicotomias foram ampliadas com a implantação de modelos de Parques Estaduais desabitados voltados pra o estudo científico, beleza cênica e contemplação turística.
O processo de implantação de Unidades de Conservação em áreas de Comunidade tradicional pode estar associado a conservação da diversidade biológica e cultural, evitando assim o processo de desterritorialização. Logo, estas comunidades podem ser aliadas no processo de conservação dos ecossistemas presentes em seu território; haja vista que são exatamente estas áreas, por se encontrarem em melhor estado de conservação, as escolhidas para implantação de Unidades de Conservação. O Estado ao (re) territorializar se apropria de espaços comuns desterritorializando aqueles que antes ocupavam estes espaços. GONÇALVES (2004) expõe que:
      “O fundamento da relação da sociedade com a natureza sob o capitalismo está baseada na separação – entre os homens e mulheres, de um lado, e a natureza do outro.” (P.66). Ao privar pequenas comunidades tradicionais do direito à terra e à utilização dos recursos ambientais ali presentes, ocorre a expropriação desterritorializando homens e mulheres, que ao serem “separados das condições naturais essenciais para sua reprodução se tornarão vendedores da sua capacidade de trabalho e compradores de mercadoria”. p,67.
Ao implantarmos Unidades de Conservação de Uso Sustentável assegura-se o direito de permanência destas populações tradicionais vazanteiras em seus territórios unindo tradição e modernidade, o saber empírico e o saber científico; respeitando as relações do espaço vivido e os saberes construídos historicamente pela comunidade.
A implantação de Parques enquanto Unidade de Conservação de Proteção Integral, ao propor desapropriar as famílias gera situações de vulnerabilidade social. Esta situação tem sido vista em áreas do norte de minas gerais em que as famílias ao serem desapropriadas: buscam outras terras nas periferias das cidades ocupando outras porções de ilhas; o que por sua vez remonta o problema; migram para Belo Horizonte, São Paulo e Brasília onde geralmente vivem em situações de subemprego nas periferias e periferias da periferia de grandes centros urbanos em áreas de vulnerabilidade sócio ambiental.
A aliança com os saberes tradicionais para conservação dos recursos ambientais potencializa o desenvolvimento de práticas sustentáveis, respeitando a diversidade de forma de produção agrícola, contribui para a segurança alimentar de centenas de famílias e evita a violação do direito humano que estas famílias possuem de cultivarem seus modos de vida tradicionais.

Referências:
- ACSELRAD, Henri, HERCULANO, Selene, PÁDUA, José Augusto: Justiça Ambiental e Cidadania. 2ª edição, Relume Dumará, Rio de Janeiro, 2004. 
- BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. SNUSC – SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO. Brasília: MMA, 2006. disponível em: http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/doc/snuc.pdf Acesso em: 13 de Outubro de 2007;
- DAYRELL, C. A. Geraiszeiros y biodivesidad em el Norte de Minas Gerais: la contribuición de la agroecologia y la etnoecologia em los estúdios de los agroecossistemas. Huelva, Universidad Nacional de Andalúcia, 1998. 195p. (Dissertação de Mestrado).
- DIEGUES, Antônio Carlos. Etnoconservação: Novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. 2.ed. São Paulo: HUCITEC, 2000.
- DIEGUES, Antônio Carlos. O Mito Moderno da Natureza Intocada. 2.ed. São Paulo: HUCITEC, 1998.
- DIEGUES, Antônio Carlos, NOGARA, Paulo José. O Nosso Lugar Virou Parque.  São Paulo: NUPAUB, 1994
- DIEGUES A.C.; ARRUDA, R.S.V. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001. 176p.
- GOMES, Paulo César da Costa. Geografia e Modernidade – Bertrand Brasil, 2ª edição. Rio de Janeiro, 1996.
 - GONÇALVES, Carlos Walter Porto-. O Desafio Ambiental. Organizador: SADER, Emir. – Rio de Janeiro, Record, 2004
- LUZ, Cláudia Oliveira. Vazanteiros no Rio São Francisco. Populações Tradicionais e Territorialidade no Norte de Minas. 2005. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade Federal de Minas Gerais, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: Andréa Luisa Moukhaiber Zhouri.
- RIBEIRO, Ricardo Ferreira. Conflitos Socioambientais em torno de recursos naturais e a proposta de criação de reservas extrativistas no cerrado. 30º Encontro Anual da Associação Nacional dos Povos do Cerrado, 2006.
- RIBEIRO, Ricardo Ferreira. “Sertão-Serrado”: História Ambiental e Etnoecologia na Relação entre Populações Tradicionais de Minas Gerais e o Bioma do Brasil Central. 2002. Tese (Doutorado). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
- SILVA, Rosângela da. Unidade de Conservação em território de comunidade Tradicional – um estudo de caso da comunidade Pau Preto norte de Minas Gerais. 2009. Monografia curso de Geografia. Universidade Católica de Minas Gerais.

ü  Este artigo faz parte do caderno de textos dos eventos preparatórios para a 5ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável.






[1] Geógrafa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. A partir de vivências em campo proporcionadas pelo projeto de Extensão Lições da Terra na comunidade vazanteira denominada Pau Preto em Matias Cardoso, desenvolveu seu trabalho de conclusão de curso: Unidade de Conservação em território de comunidade Tradicional – um estudo de caso da comunidade Pau Preto, norte de Minas Gerais, orientado pelo Prof. Alecir Moreira, 2009.
[2] Oliveira, 2005, p.17