quinta-feira, 13 de outubro de 2011

AGROECOLOGIA

Como Caminho de Transformação
Construindo o Desenvolvimento Solidário e Sustentável

“Nenhuma atividade humana, nem mesmo a medicina,
tem tanta importância para a saúde quanto à agricultura.”
Pierre Delbet, Academia de Medicina, França

Marcio Adriano Lima e Rodrigo Pires Vieira
Cáritas Brasileira MG

INTRODUÇÃO:
O agronegócio, as transnacionais, as monoculturas, a degradação ambiental em função da busca incessante pelo lucro e pelo acúmulo de riquezas, a prioridade dada às exportações em detrimento da alimentação do povo brasileiro, os transgênicos e o latifúndio, todas essas ameaças e fatores têm avançado bastante na sociedade brasileira nos últimos anos.
Mas é também verdade que a agroecologia como modelo de desenvolvimento se fortalece e aparece a cada dia mais. Para uns, enquanto políticas compensatórias e paliativas, para outros, enquanto projeto de sociedade e modelo de desenvolvimento.
É neste último campo que algumas das organizações da sociedade civil (entidades, ONGs) e movimentos sociais se incluem.
Segundo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) de março de 2011, a agroecologia pode duplicar a produção de alimentos em 10 anos.
Para uma melhor qualidade de vida, a agroecologia busca valorizar de forma democrática e participativa os valores culturais e os conhecimentos da agricultura artesanal/tradicional. Uma agroecologia que não vise somente a produção e o uso adequado do meio ambiente, mas a valorização da cultura e do saber popular. Que possibilite o agricultor e a agricultora se organizarem e lutarem pelos seus direitos. Que fortaleça relações solidárias e igualitárias entre homens e mulheres, produtores e consumidores.
Não se trata de um retorno ao passado, abrindo mão de avanços tecnológicos, mas sim de se construir um futuro próspero. Agroecologia para uma agricultura limpa, que produza alimentos saudáveis, sadios e nutritivos. Buscando a harmonia entre solo, plantas, animais e seres humanos, produzindo sementes crioulas e adubo orgânico. Garantido, assim, uma melhoria na qualidade de vida.
Uma agroecologia que tenha compromisso com a reforma agrária, para que haja distribuição de renda. Defender e construir a agroecologia é acreditar que somos nós, o povo brasileiro, quem temos que dizer como o campo - e também a cidade - serão organizados. E não o lucro e as empresas que devem ditar as regras.

O QUE É AGROECOLOGIA?

Agroecologia significa uma nova forma de olhar o mundo. Novas formas de relação entre nós seres humanos e nossa com a natureza. A agroecologia é um acordo dos seres humanos com a natureza. Significa promoção de vida. Para isso nós, seres humanos, precisamos mobilizar nossas culturas, usar nossa inteligência para construir essa nova ciência que dialoga com o conhecimento popular e procura entender a relação entre os seres humanos e destes com a natureza.
A agroecologia, enquanto ciência é relativamente recente. Tem cerca de 30 anos de existência. Embora os conhecimentos ecológicos dos agricultores e agricultoras tenham a idade da própria agricultura, ou seja, mais de 10 mil anos.
Fazer agroecologia é produzir alimentos de forma natural e diversificada, sem a utilização de agrotóxicos e adubos químicos, com adoção de práticas adequadas de manejo do solo e da água. Ela ganhou força em meados dos anos 90 tendo como princípio básico o uso racional dos recursos naturais. A agroecologia parte de uma nova abordagem da agricultura que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, na avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção de alimentos e na sociedade como um todo.
Na agroecologia a agricultura é vista como um sistema vivo e complexo, inserida na natureza rica em diversidade, vários tipos de plantas, animais, microorganismos, minerais e infinitas formas de relação entre estes e outros habitantes do planeta Terra. Realidade bem diferente da agricultura tradicional que vem sendo praticada há séculos, que tem como característica principal o uso inadequado da terra e da água. Isto vem causando enormes prejuízos econômicos, sociais e ambientais ao nosso planeta.
Concentração de terra, expulsão e morte de milhares de camponeses e o aumento da fome no mundo. Este tem sido o resultado deste modelo implantado no campo. Tudo em nome de um falso progresso que visa o aumento dos lucros das grandes empresas multinacionais.
Diante desta realidade, os movimentos sociais de todo mundo têm defendido a bandeira da agroecologia como prova de nosso compromisso com o planeta terra e todos os seres que nele habitam.
Por isso, temos que participar ativamente deste movimento, incentivando e apoiando comunidades rurais e urbanas a adotarem práticas de produção a partir dos princípios da agroecologia.

PORQUE LUTAR PELA AGROECOLOGIA?

É importantíssimo saber que a história do ser humano está profundamente ligada à vida da terra, das plantas e dos animais. Desde a criação do Homem e da Mulher por Deus, sobrevivíamos dos ‘frutos’ que a natureza oferecia. Após muitos anos, descobrimos que não precisávamos depender totalmente da natureza. Entendemos então, que podíamos cultivar a terra, semear, plantar e domesticar animais. Atividade esta exercida pelas mulheres, pois os homens eram responsáveis pela caça. Iniciou-se assim a AGRICULTURA há mais de 12 mil anos.
Após a Segunda Guerra Mundial em 1945, a agricultura passou a sofrer grandes modificações. Cientistas descobriram que as substâncias tóxicas usadas para matar pessoas durante a guerra, também matavam insetos e plantas. E assim surgiram os primeiros venenos (agrotóxicos) que junto com as grandes máquinas agrícolas, sementes híbridas e a assistência técnica atrelada ao pacote industrial, forçaram o agricultor e a agricultora a trilharem outro caminho não escolhido por eles, mas sim pelas grandes empresas.
 É o sistema que chamamos de vicioso, pois todo ano o agricultor (a) tem que comprar os produtos das empresas cada vez em maiores quantidades e mais caros. Com a perda das sementes crioulas melhoradas nas comunidades há anos pelos pais e avós, favoreceu-se a implantação deste sistema.
O modelo agroquímico deixou e continua deixando: marcas profundas de exclusão e violência no campo e na cidade, êxodo rural, inchaço nas cidades, aumento das desigualdades sociais, analfabetismo, desnutrição e mortalidade infantil, contaminação do solo, da água, dos animais, das plantas e do próprio ser humano.
E, ao contrário do que pregavam as grandes empresas multinacionais e os governos, este modelo não acabou com a fome no mundo. Mas sim, intensificou a pobreza, a dependência, o desemprego, a violência e a falta de esperança. Esta realidade tem excluído o/a produtor(a), pois com a perda da cultura e do saber popular e a adoção do modelo capitalista, a agricultura familiar tornou-se insustentável.
Agora as grandes empresas lançam uma nova ofensiva, que vai escravizar ainda mais as famílias agricultoras menos avisadas. São os transgênicos. Temos que nos colocar contra, pois sofreremos os mesmos problemas da revolução química: o/a produtor(a) terá que comprar a semente e o mesmo veneno todo ano, pagando o que a empresa determinar. O que isso causará na saúde humana e no meio ambiente ainda é desconhecido.

PRINCÍPIOS DA AGROECOLOGIA:

Praticar uma agricultura ecologicamente correta, com produção, socialmente justa e culturalmente adaptada. A ”mãe-terra” nos oferece tudo o que precisamos para viver: terra para plantar, sementes, água, animais, sol e o ar que respiramos. Porém, não estamos cuidando da nossa ”mãe” como deveríamos. Fazemos queimadas, jogamos lixo nas suas matas e rios, e poluímos nossas nascentes com venenos. É preciso mudar nosso jeito de cuidar da “mãe-terra”, convivendo em grupos, respeitando e tendo como parceiro o meio-ambiente. Assim, podemos colher os frutos da natureza, preservar todas as formas de vida e garantir as nossas vidas e das futuras gerações.
Para construir de fato a agroecologia, precisamos investir na organização e mobilização popular, promover processos de luta social, de afirmação da agroecologia enquanto projeto político para promoção de uma Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável.
1.    Diante da nossa realidade, quais as dificuldades enfrentadas em nossa comunidade e em nosso município, para produzirmos alimentos de qualidade e ainda cuidando do meio ambiente?
2.    O que poderíamos fazer para superar estas dificuldades?
3.    Levando-se em conta as soluções apontadas, será que na nossa comunidade e região já existem algumas experiências que já estão acontecendo? Onde estão localizadas e quais são elas?


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALTIERI, M.A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro: PTA/FASE, 1989. 240p.
PRIMAVESI, A. Manejo Ecológico de pragas e doenças. São Paulo: Nobel, 1988, 139p.
FUNDAÇÃO GAIA. A teoria da TROFOBIOSE de Francis Chaboussou: Novos caminhos para uma agricultura sadia. 2. ed. Porto Alegre, RS: Gráfica Camaleoa Agência, 1995.
SEHNEM, Pe. João. Cuide Bem Sua Terra. Porto Alegre, RS: Empresa Gráfica Metrópole. S.A.
ZAMPERLI, Jurandir & FRONQUETI, Alceu. Agricultura Alternativa: um enfrentamento à agricultura química. Passo Fundo, RS: Ed. P. Berthier. 1994, 167p.
PINHEIRO, Sebastião et al. Agropecuária Sem Veneno. Rio Grande do Sul, RS: editora Gráfica Editorial Ltda., 1985.
CEPAGRI. Livro Verde: Agricultura Alternativa Ecológica. Caçador, 1991.
CARVALHO, Horacio Martins de. Comunidade de Resistência e Superação. Curitiba, PR: Gráfica e Editora Peres, 2002.


ü  Este artigo faz parte do caderno de textos dos eventos preparatórios para a 5ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável.





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