quinta-feira, 13 de outubro de 2011

COMUNIDADES TRADICIONAIS DE TERREIRO


Makota Kizandembu Kiamaza/T.C[1].

Temos no Brasil 4 nações que formam as Comunidades Tradicionais de Terreiros: Angola( Bantu), Ketu, Djeje e Nago. Grupos ocupam e usam de forma permanente, os territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. Para isso, são utilizados conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição, fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos, culturais e religiosos, respeitando e valorizando suas identidades.
A religiosidade esta fortemente ligada à natureza. É por meio dela que o culto se expressa. Água, fogo, ar, terra, vento, raio, trovão, mata, entre outros elementos, são fundamentais para existência destas comunidades, cujo os  rituais devem manter perfeita harmonia com o meio ambiente natural.
Portanto, a visão de mundo desta tradição de matriz africana é de totalidade, na qual tudo interage, garantindo o equilíbrio num elo em que cadeias de forças cósmicas agem em sintonia de tal modo que a quebra de um desses elos altera todo o conjunto a vida humana. Dessa forma, os alimentos naturais, as árvores e outros elementos da natureza são parceiros do ser num jogo em que o cosmo e o mundo visível se encontram.
As políticas públicas que garantem o acesso regular e permanente a alimentos (inclusive a água) de qualidade e em quantidade suficiente para uma vida saudável estão sendo inviabilizadas por problemas graves que atingem a comunidades tradicionais de terreiros. O desaparecimento das fontes de água natural, as mudanças climáticas, a devastação das florestas, a poluição ambiental, os resíduos industriais e hospitalares, o esgotamento acelerado de matérias-primas não renováveis, a monocultura intensiva, o extermínio da fauna e flora, a ocupação desordenada do campo e das cidades, são alguns destes problemas.
As condições socioeconômicas, com foco em questões de segurança alimentar dessas comunidades e a sua religiosidade estão sendo ameaçadas por esses problemas. Há muita vulnerabilidade social e fragilidade econômica dos atingidos pelas mineradoras, pelas monoculturas, sobretudo no que diz respeito aos graves casos de saúde pública.
As Comunidades de terreiros ocupam de forma permanente os territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. Para isso, são utilizados conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. O homem só existe na relação direta e prática com a natureza, natureza essa que dá condições saudáveis para sua existência.
Ao contrário da relação entre o homem e a natureza descrita inicialmente, onde a natureza é humanizada pela ação do trabalho humano ou ainda transformada para a humanidade ao se objetivar em produtos para a satisfação das necessidades do homem, tem-se agora uma relação totalmente desvirtualizada pela ganância do homem.
Debates e diversas propostas de políticas públicas são elencados na tentativa de diminuir a miséria e os males da fome. Uma seqüência de fatores despertou o interesse da população sobre a temática, mobilizando segmentos sociais para a garantia do direito à alimentação de qualidade a todos os habitantes do Estado de Minas Gerais. Isso por meio do controle social das políticas e ações públicas de segurança alimentar e nutricional sustentável em articulação do governo com as instituições da sociedade. A preocupação da população mineira com a concentração de renda, terra e água  na mão de maioria dominante é vista como um dos principais determinantes da fome e da miséria no Estado.
O crescimento desordenado das cidades faz com que os terreiros existam em áreas totalmente urbanas, massacrados pelas avenidas, shoppings e prédios. Sem o ambiente natural por perto, a relação direta com o meio ambiente fica ameaçada assim como o direito humano à vida e à alimentação saudável. Na cidade de Belo Horizonte e em outras grandes cidades mineiras, a maioria dos terreiros sofre com esses problemas, ficando inviabilizada a agricultura familiar, as ervas medicinais e sua medicina tradicional e popular nestes espaços.
A falta de informação da população e de acesso às políticas públicas e às leis também é um problema grave. Como ter acesso a essas políticas? Como participar e ser atingido pelas políticas de segurança alimentar e nutricional?
Um dos principais meios para resistir e superar estes problemas é a participação direta na construção destas políticas. Mas como?
Precisamos tratar aqui dos problemas enfrentados pelas comunidades tradicionais de terreiros, garantirmos o direito humano à alimentação adequada a todos, por meio do controle social das políticas e ações públicas de segurança alimentar e nutricional sustentável em articulação do governo com as comunidades tradicionais de terreiros.
Freqüentemente a cidade e até mesmo o campo são considerados um espaço onde se acumulam problemas sociais e ambientais. Temos que pensar nestes locais como espaço de riquezas culturais e da biodiversidade. Perceber tais elementos é fundamental para se criar nova possibilidades de convivência mais justa.
 A região metropolitana de Belo Horizonte passou recentemente pela pesquisa socioeconômica e cultural de povos e comunidades tradicionais de terreiros, visando auxiliar e nortear as ações de Segurança Alimentar e Nutricional das Comunidades Tradicionais de Terreiros. A pesquisa é uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Fundação Cultural Palmares e UNESCO. A pesquisa deverá estar disponível até agosto de 2011.
Estas ações significam o reconhecimento de tais comunidades como patrimônio cultural-religioso de importância fundamental em nosso país, tendo em vista o caráter étnico e a dimensão comunitária a elas associadas. Com essa pesquisa podemos nos aproximar ainda mais dessas comunidades e planejar melhor nossas ações com reconhecimento ao trabalho social desenvolvido nos terreiros.
                                                            
Referências:

Site do MDS/ Povos e Comunidades Tradicionais:  http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/povosecomunidadestradicionais

Caderno de Orientação-Educação Ambiental e Práticas das Religiões de Matriz Africana/ Prefeitura de Uberlândia-2006.          




[1] Coordenação Executiva do  Monabanto-MG.

ü  Este artigo faz parte do caderno de textos dos eventos preparatórios para a 5ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário